Causas

          A maioria dos criminosos comete crimes como resultado de experiências traumáticas de infância, do próprio meio onde se inserem, ou até devido à falta de vontade para trabalhar. No entanto, o mesmo não se verifica em relação à classe dos psicopatas. Este grupo restrito não rouba porque precisa, mas sim pelo prazer de cometer um delito, por exemplo. O desprezo pelas normas sociais é que conduz o psicopata à delinquência. E porque nutrem eles desprezo em relação às regras e padrões da nossa sociedade? Qual a causa de toda a sua maldade?
          Existem três principais factores de risco que podem conduzir um indivíduo à psicopatia: factores genéticos, ambiente agressivo e lesões cerebrais.

1. Factores genéticos
          Existem vários especialistas em psicologia e psiquiatria que afirmam que todos nós nascemos com impulsos destrutivos e agressivos. O especialista na mente humana, Freud, é exemplo desse grupo de psicólogos e psicanalistas que afirmam tal coisa. Segundo ele “Nascemos com um programa inviável que é atender aos nossos instintos (…)” – instintos esses que são reprimidos, na sua maioria, com a conjugação com factores ambientais – “ (…) que o mundo não permite”.
          Conclui-se, por conseguinte, que a nossa propensão à rebeldia, que nos está no sangue, como foi demonstrado, é travada pelo ambiente em que vivemos. Assim, a psicopatia é genética, mas adensa-se através do contacto do indivíduo com o meio.

2. Ambiente agressivo
          Um ambiente pouco ameno e anoréctico em termos de estabilidade e relativa paz e harmonia é propício a que a personalidade do indivíduo se modele negativamente. Assim, e tendo em conta que o indivíduo precisa de calma no ambiente em que vive para que os seus ímpetos destrutivos se dissipem e se reprimam, uma infância lotada de instabilidade e hostilidade, muitas vezes causada por familiares da criança em questão, ou por outros indivíduos que convivam com ela (tais como outras crianças), pode fazer com que a criança tenha problemas emocionais, frieza, crueldade, falta de empatia para com os outros, etc. Em suma, pode satisfazer, e não reprimir, os impulsos destrutivos que nascem com ela, que lhe estão incutidos no sangue.
          Em vista disso, é possível que a psicopatia dê os primeiros passos ainda na infância. Todavia, o termo psicopatia não se aplica às crianças com idades inferiores a 15 anos. Em vez disso, utiliza-se a expressão: “desvio de conduta”. É este termo que se aplica às crianças em detrimento do conhecido termo “psicopatia”, pois estas crianças, tal como o vocábulo “desvio” indica, sofreram um afastamento dos padrões comportamentais socialmente aceites. Como tal, este “desvio” pode ser remediado com a intervenção do factor ambiental, ou seja, com o intermédio de ajuda por parte de familiares da criança, ou, preferencialmente, de especialistas na área da psicologia e/ou psiquiatria.

3. Lesões cerebrais
          Está provado que o nosso físico tem uma ligação directa com o psíquico. Por isso, é possível que um acidente que danifique uma área do nosso cérebro possa ter consequências directas na personalidade, podendo modificá-la.
          O especialista em neurologia, António Damásio, em 1990 concluiu, precisamente, através de um profundo estudo, que as lesões no córtex frontal, do cérebro, podem alterar a personalidade do indivíduo em questão, tornando-o emocionalmente instável, frio e/ou com comportamentos anormais perante a sociedade.
          O caso mais conhecido do especialista é relativo a Phineas Gage, no século XIX, em que o indivíduo estudado sofrera uma lesão cerebral provocada por um tubo de ferro que lhe atravessou o crânio, atingindo o córtex frontal. Phineas, anteriormente um homem com um adequado comportamento na sociedade, sendo educado, respeitador e cavalheiro, metamorfoseou-se por completo. Como resultado da lesão cerebral, este homem tornou-se frio, grosseiro e com dificuldades em tomar decisões em relação à sua vida.
          Assim, é possível que uma lesão no córtex frontal possa tornar um indivíduo “normal” num indivíduo com personalidade anti-social, sendo propícia ao grassar de comportamentos psicopáticos.
          Ao longo dos últimos 20 anos, realizaram-se estudos em assassinos e criminosos cujos resultados provaram que um elevado número dos estudados tem doenças cerebrais.
          Pamela Y. Blake, Jonathan H. Pincus e Cary Buckner, neurologistas do centro médico da Universidade de Georgetown (Washington D.C), realizaram um estudo denominado Neurologic abnormalities in murderers, constatando que mais de 64% dos criminosos sob estudo apresentaram lesões ou anormalidades no lobo frontal.


          Os lobos frontais localizam-se na parte anterior do cérebro e “dividem-se” em duas partes cuja harmonia entre elas é determinante para a personalidade do indivíduo. Essas partes são: Áreas pré-frontais e Córtex fronto-polar.
          As áreas pré-frontais são activadas aquando do tecimento de um juízo moral e são responsáveis pela activação de aspectos frios e racionais. Os psicopatas têm esta zona do cérebro em grande actividade.
          O córtex fronto-polar liga-se mais com a regulação e possível inibição de comportamentos e também com o sentido de responsabilidade social. Uma lesão nesta área do cérebro pode provocar dificuldades de concentração e motivação, aumento da impulsividade, perda de auto-controlo, dificuldades em sentir culpa e empatia, aumento do comportamento agressivo, etc.
          Os psicopatas têm esta zona do cérebro com pouca actividade.